quinta-feira, 2 de março de 2017

O mundo exposto: como entender a sociedade da transparência


Finalizando a minha saga para entender a filosofia de Byung-Chul Han, termino a leitura do seu terceiro livro “A Sociedade da Transparência”. Comecei a mergulhar no seu universo pelo livro “A Agonia de Eros” e depois fui para “Sociedade Cansada”. Han é, como todo filósofo, observador atento e problematiza seu tempo. Pontua elementos que vem transformando significativamente a sociedade e não apenas por causa da revolução digital.
Ele analisa, nesse livro, o que chama de ‘tempo transparente’, um tempo destituído de destino e de todo o conhecimento. Uma realidade desembaçada, sem mistério e negatividade que torna-se pornográfica. O dinheiro torna tudo comprável e a sociedade do consumo torna tudo “um inferno do igual”.
Han é um grande crítico dessa busca por transparência, operacionalidade que destitui qualquer tipo de ambivalência. O autor cita Richard Sennett para caracterizar a sociedade que necessita de papeis a serem executados. Uma representação tão necessária para a vida pública. A sociedade positiva não admite sentimentos negativos. O amor, por exemplo, é domesticado e positivado como fórmula de consumo e conforto.
Na sociedade exposta, cada sujeito se torna seu próprio objeto de publicidade. O valor da exposição é a medida de tudo, “tudo é entregue, nu, sem segredo, à devoração imediata”. Todos os rituais são eliminados porque se tornam um obstáculo à aceleração dos ciclos de informação, da comunicação e da produção. Claro que as redes digitais servem de análise para essa aceleração e evidência narcísica. Han cita, “Os social media e os motores de busca personalizados erigem na rede um espaço próximo absoluto, do qual o fora foi eliminado. É um espaço onde nos encontramos somente a nós mesmos e aos que se assemelham a nós. Não há qualquer negatividade que torne uma mudança possível. Esta proximidade  não apresenta ao participante senão essas secções do mundo a seu gosto. Desse modo, desintegra a esfera pública, a consciência pública, crítica, e privatiza o mundo. A rede transforma-se numa esfera íntima, ou numa zona de bem-estar. A proximidade, da qual toda a distância do longe foi eliminada, é também uma forma de expressão da transparência.”

Portanto, a hiperconectividade e a hiperinformação não traz mais luz e liberdade, muito pelo contrário, vivemos um outro tipo de panóptico. Nenhum muro separa dentro e fora mas, a vigilância se torna diferenciada. Não mais há um “ataque à liberdade”, hoje voluntariamente cada um se entrega ao olhar panóptico. Somos algozes e vítimas. É a dialética do presente.

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