A
vitória de Donald Trump nos Estados Unidos não estava no script. Ele passou de
um bonachão excêntrico, midiático para presidente da nação mais rica do mundo.
O planeta inteiro tenta entender o presente com sua eleição e o futuro incerto
sob o seu comando. Mas algo chama a atenção e que não é novo nos estudos
sociológicos mas, merece uma importante reflexão: a mixofobia.
Não
é de hoje que o estranho incomoda. Temos exemplos trágicos na história que
comprovam isso... o nazismo foi prova viva do que estou falando. Depois de
Segunda Guerra Mundial, o mundo procurou ser mais tolerante através, por
exemplo, de tratados como a Declaração Universal dos Direitos Humanos
promulgada pela ONU em 1948 que estabelece, pela primeira vez, a proteção
universal dos direitos humanos.
Vários
discursos de Trump revelaram sua mixofobia, principalmente, com os latinos.
Chegou a chamar os brasileiros de “porcos latinos” e que ia construir um muro
na fronteira com o México e “os mexicanos iam pagar por ele”. Isso assustou o mundo. O seu discurso foi escancarado....
e o pior de tudo, acolhido pelos eleitores americanos.
O
sociólogo polonês Zigmunt Bauman trata com muita propriedade sobre à mixofobia
e a mixofilia. Como as cidades e os próprios cidadãos, tão heterogêneos,
convivem com multiculturalidade. Em seu
livro “Confiança e medo na cidade” ele traz os conflitos e a necessidade que
temos de conviver com o estranho. “A mixofobia e mixofilia
coexistem não apenas em cada cidade, mas também em cada cidadão. Trata-se,
claramente de uma coexistência incomoda, mas, mesmo assim muito significativa”.
Em um
mundo que se diz globalizado e hiperconectado não é possível
pensar em barreiras de proteção, mesmo assim, conviver com o estranho é
difícil. Precisamos ainda discutir questões de gênero, de raça e de religião em
sociedades que se acham tão evoluídas. O fantasma dos ideais nazistas ainda
ronda muitos lugares. O discurso de Trump apenas escancara o quanto o outro
incomoda, mas, ironicamente, consumimos aquilo que o outro produz em várias
partes do mundo. A lógica do capital é cruel.
No
seu mais recente livro “Babel: entre a incerteza e a esperança”, Bauman nos
alerta para o caminho perigoso que a sociedade contemporânea vem construindo “de
maneira pendular, nós vamos da ânsia por mais liberdade à angústia por mais
segurança”. Essa segurança pode ser entendida sob vários pontos de vista. Que a
história não se repita.