sábado, 14 de maio de 2016

O radiodocumentário: criando imagens através do som

Já diz um professor do curso de radialismo da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Sebastião Figueiredo, que o rádio é ‘teatro para cegos’. Isso é uma grande verdade! A linguagem radiofônica possui especificidades que exigem de quem está do lado de cá do microfone determinadas aptidões e técnicas para que a notícia seja bem entendida. Mais do que se ler uma notícia no rádio é preciso contar uma história e isso exige interpretação e utilização de recursos técnicos que auxiliem a compreensão da mensagem.
Catadoras de mangaba de Sergipe
O radiodocumentário, pode-se assim dizer, é a forma mais complexa de produção radiofônica porque exige do profissional uma apuração profunda dos fatos e uma sensibilidade técnica para utilizar os recursos sonoros adequados ao assunto que profundamente se quer explorar. Quando fiz o documentário “Catadoras de mangaba de Sergipe: como o associativismo pode garantir o sustento de uma comunidade extrativista”, vencedor do prêmio nacional de jornalismo do Sebrae 2012, na categoria radiojornalismo, muito mais de que coletar entrevistas e encaixá-las no texto, foi um grande desafio trazer para o rádio um universo que envolve a cultura da mangaba no Estado. O objetivo era não simplesmente retratar o trabalho dessas mulheres mas como a valorização do trabalho delas trouxe cidadania e elevou a autoestima. 
É importante também frisar que a mangaba faz parte da cultura dessas mulheres e existe tod
o um universo ligado ao patrimônio imaterial que é passado de geração para geração através dos cânticos populares. A mangaba é, por decreto, símbolo do estado de Sergipe. Elas vendiam o fruto in natura, de forma individual, e uniram forças para ampliar a renda ao fundar a Associação das Catadoras de Mangaba e Indiaroba (Ascamai). As catadoras também fizeram do movimento um front de luta pela preservação das mangabeiras que estão sendo reduzidas na região por causa da expansão imobiliária, da monocultura e do veneno derramado pelos tanques de criação de camarões. Elas lutam pela criação de uma reserva extrativista que possibilite a preservação da mangabeira e da tradicional cata do fruto. Procurei na matéria relatar as vitórias alcançadas pela Ascamai, com o projeto “Catadoras de Mangaba, gerando renda e tecendo vidas em Sergipe”, patrocinado pela Petrobras e desenvolvido em parceria com a Universidade Federal de Sergipe e Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional.
Por meio do projeto financiado pela Petrobras participaram de um vídeo-documentário sobre a vida delas e gravaram um CD com as cantigas que suas avós e mães cantavam enquanto catavam o fruto da mangabeira. A reportagem termina com trechos do canto das catadoras: “Vamos catar mangaba, vamos encapotar, o galho da mangabeira onde eu vou me balançar...” O radiodocumentário me possibilitou explorar esse universo tão rico e, acima de tudo, ter a oportunidade de dar visibilidade a uma comunidade muito carente, com a liberdade do rádio e os seus recursos que permitem o ouvinte ‘mergulhar’ no universo da história contada.

Ouça o documentário aqui: 


Artigo publicado no site da FITERT - maio/2013