terça-feira, 25 de novembro de 2008

O 'Palácio das Jóias' e as Jóias Humanas

O grande pesquisador Luiz Antônio Barreto escreveu esse maravilhoso texto sobre o rádio de Sergipe. Com a autorização dele, reproduzo aqui esse importante relato.


O descuido para com a memória tem dado imenso prejuízo a Sergipe e aos sergipanos, e de tal forma que será difícil recuperar os acervos perdidos, tragados pelo tempo, sem proteção, ou largados ao abandono, sem cuidados. Os jornais, que são fontes privilegiadas, pela fixação das notícias, comentários, opiniões, colaborações literárias, estão em estado deplorável de conservação e muitos deles estão fora de uso. A tecnologia tem permitido, desde a década de 1980, salvar parte dos jornais, através de microfilmes, CDs, e outras mídias que, a baixo custo, democratizam o acesso às coleções dos diários, periódicos em geral, revistas, e boletins. O que é de papel, portanto, tem alguma sobrevida futura. E o que ficou na oralidade, como salvar?

Jackson da Silva Lima, o sempre bom inventariante da literatura sergipana, tem transformado velhos discos de acetatos e fitas antigas, em CDs, recuperando a voz de poetas ilustres para a vida literária sergipana, como Garcia Rosa, José Sampaio, Mário Cabral, José da Silva Ribeiro Filho e Santo Souza. Conta, o historiador da literatura, com colaborações de amigos, como Wagner da Silva Ribeiro, e de acervos locais, que no sacrifício guardam muitas raridades.

O rádio sergipano, iniciado nos salões do Palácio Olímpio Campos, para atender aos interesses do Estado Novo, através do Departamento de Imprensa e Propaganda, que cooptou diversos intelectuais e jornalistas locais, foi muito além da Rádio Difusora, hoje Aperipê. Na própria Rádio Difusora, na administração direta ou quando arrendada ao empresário Augusto Luz, surgiram artistas, cantores e instrumentistas que fizeram nome e receberam aplausos do público. As disputas políticas fizeram surgir outras emissoras, como a Rádio Liberdade, ligada a União Democrática Nacional – UDN, tendo como proprietário o industrial e comerciante Albino Silva da Fonseca, a Rádio Jornal, capitaneada pelo comerciante Augusto Barreto, do Café Império, o industrial Jorge Leite, da SULGIPE, e outros integrantes do Partido Social Democrático - PSD, coligado com o Partido Republicano – PR. Depois veio a Rádio Cultura, de orientação católica, e, mais tarde outros prefixos, nitidamente políticos, muitos deles ainda atuantes, como se pode conferir nas manhãs diárias, quando cada programa se transforma numa espécie de ouvidoria dos temas gerais.

A radiofonia sergipana contou com programas que tinham grande afluência de público, nos auditórios, ou de casa, gerando uma audiência consagradora. Silva Lima, com seu Informativo Cinzano, Santos Mendonça, com seu Calendário, Carlito Melo, com o Carrossel da Alegria, ou com Manhã Sertaneja, se tornaram conhecidos, conquistaram mandatos na Câmara Municipal de Aracaju e na Assembléia Legislativa. E não foram únicos. Os programas de auditório levavam pelas ondas do rádio a voz de Vilermando Orico, um menino prodígio, de voz extensa, caprichosamente bem vestido, que cantava, tocava e ainda assinava algumas das composições do seu repertório. Vilhermando Orico, nascido em Viçosa, Alagoas, em 1944, chegou criança a Aracaju, onde seu pai, José Orico, instalou uma metalúrgica e um estúdio de gravações de acetato, iniciando a produção de jigles e de fitas e discos de cantores e músicos locais. No Centenário de Aracaju, em 1955, Vilhermando Orico compôs e gravou uma música homenageando a Cidade (vide no site www.infonet.com.br/serigysite) e continuou fazendo sucesso até mudar a voz. Tecladista de primeiro nível, adaptou-se à música instrumental, formou um Trio que embalava as tardes de domingo da Associação Atlética de Sergipe, e terminou em Salvador e em São Luiz, como piano bar, até morrer, em 1986, de repente, na capital do Maranhão.

Seixas Dória, já afamado orador e detentor de mandatos, comandava, na Rádio Liberdade, dois programas: Resenha Política e Problemas em Debates, este último contando com a particupação do jornalista e deputado Carvalho Deda. Silva Lima mantinha, no começo da noite, um programa sobre cinema, e contava com a colaboração do economista Antonio Rocha, que usava o pseudônimo de Dr. Gastão. Agláe Fontes comandava o seu Gato de Botas, tendo a ajuda de Santos Mendonça. Nairson Menezes, chegado de São Paulo, introduziu o uso do telefone nas emissoras de rádio, apresentando o Disque Disco, que atendia ao gosto musical popular.

Jóias Humanas de Sergipe era outro programa valioso, de biografias, que a Rádio Liberdade levava ao ar, em 1954, sob o patrocínio do Palácio das Jóias, loja situada na rua João Pessoa, nº 13. O patrocinador – José Gonçalves Lima – era também o criador do programa, apresentado por Santos Mendonça. Jóias Humanas de Sergipe era um programa semanal, e dentre os redatores estavam o Monsenhor Carlos Camélio Costa, que dentre outros escreveu a biografia de Sabino Ribeiro, e o tabelião e vereador João Alves Bezerra, que tratou de Francino de Araújo Melo (França Melo). A seleção musical, que mais parecia uma antologia da música erudita, era feita pelo maestro Genaro Plech, e o programa era retransmitido pelo Serviço de Alto-Falantes Tamandaré e pela Organização Sergipana de Publicidade, localizada na Praia 13 de Julho. O que restou do programa foi o que ficou na memória dos seus ouvintes.

Por Luiz Antônio Barreto

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Santos Mendonça e o programa Calendário: um marco no Rádio Sergipano

José dos Santos Mendonça nasceu no dia 24 de novembro de 1919, na Barra dos Coqueiros, porém passou a infância em Aracaju. Seus pais eram Albérico Curvelo e Graziela de Santos Mendonça. Estudou no colégio de Dona Bió Cardoso, e passou também, pelos colégios Salesiano, Tobias Barreto e Atheneu.

Santos Mendonça se destacou com o programa Calendário, mas ele já fazia programas radiofônicos desde quando tinha apenas 18 anos. A primeira participação foi uma ponta no programa esportivo PJ6, que era apresentado por Alfredo Gomes. Por conta de um problema de saúde, Alfredo Gomes precisou se afastar das transmissões, e Santos Mendonça assumiu todas as atrações comandadas por ele. Nesse momento Mendonça assumiu o “Atrações Matinais”, que era um programa de auditório, sucesso de público. O programa que era voltado para o entretenimento acontecia sempre aos domingos, e nele Mendonça apresentava os famosos artistas do rádio sergipano. Entre eles estavam: Pedro Teles, Eronildes, Carnera e seu Regional, João Melo e a Rádio Orquestra Pinduca.

Por causa dos baixos salários dos radialistas, Mendonça junto com outros radialistas decidiram levar seus programas para o cinema. Como os programas não tinham nenhum vinculo com as emissoras de rádio, a decisão era vista como um protesto. Assim, Mendonça passou a apresentar o programa “O que somos o quanto valemos”, no Cinema Vitória nos domingos pela manhã. O programa tinha uma boa produção, com muitas brincadeiras de perguntas e respostas, e a platéia vibrava com a distribuição de prêmios. Além das brincadeiras, assim como no “Atrações Matinais”, Santos Mendonça, no programa “O que somos o quanto valemos” também apresentava grandes artistas do rádio sergipano. A animação do programa ficava por conta da Rádio Orquestra Pinduca.

Quando Mendonça foi contratado pela Rádio Liberdade, recém-inaugurada, ele iniciou o que seria o maior programa investigativo do rádio sergipano, o Calendário. O programa era uma mesclava um jornalismo denunciativo com a prestação de serviços, informando santo do dia, horóscopo, avisos aos navegantes entre outras informações.

Santos Mendonça, na atração diária, fazia denuncias políticas e criminais. Para as denuncias de crimes ocorridos em Aracaju, o radialista contava com o apoio da população e dos próprios policias, que faziam questão de mantê-lo informado. Segundo Herbert Mendonça (filho de Santos Mendonça), para conservar o anonimato dos informantes, Santos Mendonça criou o codinome “Zé Povinho”, que servia a todo aquele que queria fazer denúncia.

O maior caso noticiado pelo Calendário foi o assassinato do menino Carlos Werneck, pelo sapateiro Antônio Feliciano de Macedo, o La Conga, e sua esposa Edith. Mendonça primeiro noticiou o desaparecimento da criança, que tinha 11 anos. Desconfiado de rapto, e que ele estaria escondido no porão de um navio, que havia acabado de partir de Sergipe, Mendonça através do rádio entrou em contato com autoridades baianas e conseguiu interceptar a embarcação no porto de Salvador. Mas, o garoto não estava escondido no navio. Mendonça, depois, emocionado, noticiou a descoberta do corpo da criança, enterrado, em um monte de areia, perto da casa onde morava, no bairro Siqueira Campos. E foi ouvindo o Calendário que a polícia chegou aos assassinos, pois eles concederam entrevista ao programa contando como cometeram o crime.

Através do programa, Santos Mendonça realizava campanhas beneméritas, em prol de várias instituições, principalmente em prol do Asilo Rio Branco.

Por Ana Paula Medeiros

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Fotos memoráveis

Estão ao lado fotos que consegui recuperar, pois estavam muito estragadas, de momentos importantes do rádio sergipano. As originais se encontram no Museu da Imagem e do Som, na Fundação Aperipê......ao longo do tempo colocarei mais!!!

Juliana

Primeiras transmissões do rádio em Sergipe

A oficial criação do rádio, em Sergipe, aconteceu no dia 07 de fevereiro de 1939, por meio do Interventor Federal, Eronildes Carvalho, através do Decreto-Lei Nº 171, publicado no Diário Oficial, em 08 de fevereiro do mesmo ano. O Decreto criava o Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda - o DEIP. Como garantia do funcionamento do DEIP foi criada também a rádio Aperipê de Sergipe ZYD2. A rádio tinha por função divulgar as notícias oficiais, e fomentar a produção de programas culturais.

A priori, a divulgação do informativo oficial era realizado através de auto-falantes instalados no prédio do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. Eram os primeiros indícios de comunicação sem fio realizados no Estado e, após um tempo, espalhou por vários pontos da Aracaju funcionando como uma emissora de rádio. Em 30 de junho de 1939, o Presidente da República, Getúlio Vargas, através do Decreto-Lei Nº 4328, concedeu a permissão ao governo do Estado para que se implantasse a estação de Radiodifusão de Sergipe.

A permissão foi complementada pela portaria Nº 276, do Ministério da Viação e Obras Públicas, aprovando as plantas para o estúdio e o transmissor. A primeira transmissão da rádio partiu de um barracão improvisado, nos fundos do Palácio do Governo, onde a rádio foi, inicialmente, implantada. Certo tempo depois, a rádio foi transferida para o prédio do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, onde as instalações eram mais confortáveis e o transmissor foi instalado na Av. Maranhão, no bairro Siqueira Campos.

Em 1944, durante a gestão do Interventor Augusto Maynard Gomes, a rádio Aperipê passou a ser chamada de Rádio Difusora de Sergipe e foi transferida para o prédio anexo do Palácio Serigy com um auditório, onde surgiram grandes locutores, músicos e produtores. A rádio era identificada pelo prefixo PRJ6.

Por Ana Paula Medeiros

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

O rádio digital

Todo mundo só fala em TV digital mas, a tecnologia do rádio digital já chegou ao Brasil. Veja que texto interessante sobre o assunto:

O Brasil é o quarto país do mundo a adotar rádio digital. Nossas principais emissoras já transmitem assim, mas nossos aparelhos ainda são analógicos. Quando forem digitais, poderão receber textos e imagens.No mês passado o rádio completou 83 anos no Brasil. Apesar de não ser uma data fechada, marcou o início de uma nova e significativa etapa no País: a transmissão digital.
As principais emissoras brasileiras já começaram a transmitir a programação com a tecnologia, proporcionando um ganho considerável na qualidade do áudio. Em termos concretos, você pode escutar rádio AM com qualidade de FM e ouvir as músicas FM com qualidade de CD.
No entanto, para usufruir da regalia, é preciso ter um aparelho habilitado para receber os sinais transmitidos digitalmente, diferente do sinal analógico utilizado hoje em dia pelos aparelhos de som. Como prega a lei do mercado, o preço ainda é bem alto por ser novidade, mas já se apresenta como uma alternativa viável em médio prazo. De acordo com a Associação das Emissoras de Rádio e Televisão do Estado de São Paulo (Aesp), em dez anos toda a malha radiofônica do Brasil será digital. Com a recepção analógica dos radinhos de hoje, o usuário não percebe mudança na qualidade do som.
O padrão escolhido pelo governo brasileiro é o americano :In Band On Channel” (Iboc, na sigla em inglês), abrindo mão da opção européia de “Digital Radio Mondiale” (DRM). A diferença é que o sistema europeu não permite a transmissão simultânea da programação em analógico e digital, ou seja, deixaria todo mundo fora do ar. O Brasil é o quarto país do mundo a adotar rádio digital, atrás dos Estados Unidos, Canadá e México.
Vantagem não é apenas a qualidade do som. Além de ouvir estações de rádio com qualidade de CD, o sistema digital possui outras vantagens bem interessantes ao ouvinte. A primeira é que não há interferência, tão comum em rádios AM. Um liquidificador ou o motor do carro podem causar interferência na transmissão analógica, por exemplo. Outra vantagem é a convergência de mídias, já que o aparelho de rádio digital pode receber textos e imagens.
Nos Estados Unidos, onde o serviço está mais consolidado – e é pago – o ouvinte recebe informações sobre o clima e o trânsito, com direito a mapas e imagens. No Brasil, durante o período de testes, tudo será gratuito.

Por Paulo Rebêlo

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Reflexões sobre o rádio e a globalização

O rádio é um meio de comunicação muito presente nesse processo de globalização. Ao analisar o poder da sua oralidade, percebe-se estar diante de um importante instrumento midiático que, por suas características específicas como a instantaneidade e mobilidade, assume uma posição privilegiada para informar de forma integrada, global e de forma absolutamente local, com os serviços de utilidade pública e programas, jornalísticos ou não, dedicados a pequenas comunidades.
Por ser um meio essencialmente massivo sua comunicação está voltada a um grande público, principalmente, por sua possibilidade de alcance. No entanto, a falta de imagens não coloca o veículo em desvantagem, pelo contrário, estimula a produção de ‘imagens mentais’.
O rádio é um meio de comunicação de massa que, por seu grande potencial de penetração e convencimento, esteve ligado à propagação de ideologias e manutenção da ordem vigente. Portanto, suas características o fazem atender a interesses que demandam uma grande mobilização como também evidenciam a interesses meramente locais. Essa dicotomia demonstra o poder da oralidade.
A discussão em torno da dialética que envolve o processo de globalização ganha força na relação com os bens culturais. Como se vê, a sociedade pós-moderna está diante de um processo globalizante que visa à homogeneização, a dominação das ideologias e lógicas do capital. O rádio, nesse processo, representa dois papéis: o de servir ao sistema vigente, refletindo os interesses dessa complexa estrutura de mercado, como um porta-voz da globalização; e também se apresenta, em alguns aspectos, com grande resistência às tendências globalizantes, privilegiando as comunidades locais e dando o suporte comunicacional ao falar para cada indivíduo, demonstrando, assim, uma das principais características que o fez resistir até hoje: a intimidade.

Juliana

Dados fantásticos sobre o rádio

Ao se estudar o rádio como meio de comunicação de massas, depara-se com um veículo que tem um alcance impressionante. Desde a sua implantação no Brasil, por exemplo, na década de vinte do século passado, o rádio passou por profundas transformações sejam elas estruturais ou ideológicas, mas a sua importância como meio informativo é relevante na medida em que, o acesso ao rádio, principalmente, em um país com dimensões continentais como o Brasil é muito maior do que a televisão.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelam no censo de 2001 que 88% dos lares brasileiros possuem aparelho de rádio, um crescimento de 3,65% em relação ao censo de 92. Os números mostram que a penetração do rádio na sociedade é algo que a televisão não conseguiu acabar. Principalmente no meio rural, o rádio está presente de forma intensa no cotidiano das pessoas. O meio de comunicação vai além das suas funções de entreter e informar, em muitas localidades o rádio é o único meio de comunicação da comunidade. O IBGE diagnosticou este fato: entre 1992 e 1999 cerca de 38,5 milhões de domicílios tinham aparelhos de rádio e justamente na zona rural o rádio é mais ouvido.

Juliana

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Nosso amigo cheio de onda!

Leiam esse texto MARAVILHOSO sobre rádio do jornalista e professor Mica Guimarães, da Universidade Estadual da Paraíba.

Nosso amigo cheio de onda!

Criar imagens através do som, eis o milagre do rádio. O rádio é o malandro das comunicações. A TV é empavonada, precisa de maquiagem colorida, de frescurinhas mil. É demorada, enjoada, cheia de artifícios que, muitas vezes, dão uma idéia bem diferente da realidade.
Já o jornal impresso tem manhas aristocráticas, não se sente bem quando tem que se rebaixar à linguagem do povo. É como se o povo não fosse o objetivo principal do seu trabalho. Não raro, o texto impresso se assemelha a uma charada; é necessário que o leitor faça um exercício mental extraordinário para decodificar a mensagem.
Como agravante, infelizmente, vivemos numa terra de gente pouco afeita à leitura. Assim, a mídia impressa se restringe a alguma centenas de privilegiados. E onde andará o papel social da imprensa?

O rádio é ágil, tem ginga. Faz do conduto auditivo passarela, espécie de avenida do samba, e sai, por aí, fazendo evoluções, sapateando por sobre tímpanos, bigornas e martelos. O povo rasga a erudição e passeia de mãos dadas com as ondas do rádio. O rádio é cheio de onda, por isso se deita tranqüilo nas praias da comunicação, margeando com simplicidade um mar de informações. É o verdadeiro banho.

Comunicação é imediatismo. Quanto mais rápido informar, mais a comunicação se estabelece com perfeição. Comunicar não é uma questão de acabamento irretocável. É, antes, a informação em 3x4, sem enfeites escamoteadores. Notícia mutilada é como pôster: atraente, mas inexpressivo. Não há omissão quando a palavra é fácil, solta, de assimilação instantânea. O rádio não é fixo, como se sua instalação em determinado prédio fosse à razão de sua própria existência.

Não. O rádio tem milhares de endereços. Um deles é o ouvido atento de uma audiência ávida por informação. Lá, naqueles ouvidos antenados, nasce diariamente uma cadeia renovadora de notícia, de conscientização, de debate e de, sobretudo, respeito à cidadania. Rádio que não se pauta assim em seu mister, não é rádio ainda.
É teia perniciosa de fuxicos, encrencas, desrespeito total ao cidadão de bem, patrocinados por aranhas do oportunismo, solitárias de discursos malfadados e anacrônicos. Não, não, não. Embora o rádio desça às massas excluídas, para pô-las no contexto social, o faz para elevá-las, nunca para denegri-las ou tripudiar sobre sua nefasta condição.

O rádio é como um conselho de amigo fiel. Mão sobre o ombro, olhar mirando um horizonte imaginário, confiança total no que se escuta. Não há que se trair esta relação. Rádio é o som vencendo a solidão. É o fim da surdez coletiva.